O impacto do Julgamento de Eichmann no "Paraíso Racial": Impressões da Mídia Brasileira sobre Perpetradores e Vítimas de Violência Racial (1960- 1970)

Docente: Monica Grin
História Contemporânea – Instituto de História da UFRJ

Nas circunstâncias do julgamento de Eichmann, desde a sua captura em 1960 na Argentina, até a execução da sua pena de morte em 1962, a opinião pública mundial pôde acompanhar avidamente os episódios diários daquele experimento dramático a partir do qual as vítimas, sobreviventes do holocausto, ganhariam naquela e nas décadas seguintes uma nova inscrição moral e afetiva no imaginário do ocidente. A elevação da vítima à condição de protagonista naquele experimento dramático, desafiaria a memória histórica da Segunda Guerra Mundial, marcada substancialmente no imaginário do ocidente como a história da vitória dos aliados na luta contra o nazismo, a mais eloquente narrativa da luta do bem contra o mal. Há uma larga produção historiográfica que desde então explora as dimensões transnacionais do julgamento de Eichmann, buscando identificar as particularidades da sua recepção conforme o contexto nacional e cultural. O objetivo da pesquisa  é investigar o impacto simbólico, raramente tratado, do legado do julgamento de Eichmann no contexto brasileiro.

Além dos impactos subjetivos sobre indivíduos, o legado do holocausto, como construção de uma tragédia histórica, quando confrontado com códigos morais, afetivos e mesmo simbólicos de diferentes culturas e nações, adquire contornos que dizem mais sobre essas culturas e nações, do que sobre o legado propriamente dito. No Brasil, parece ser esse o caso. A recepção pela imprensa brasileira do Julgamento de Eichmann nos idos dos anos sessenta, revelaria a retórica de um país que, distante do contexto da guerra, buscou reforçar o lugar de guardião moral da harmonia racial, da coexistência racial diante do racismo não só do Terceiro Reich, mas de todo o ocidente.

Bolsistas PIBIC:
Beatriz dos Santos da Silva
Lucas Oliveira

Memória(s) da Experiência Portuguesa na I Guerra Mundial.

Docente: Silvia Correia
História Contemporânea – Instituto de História da UFRJ

Pretendemos, neste projeto, olhar para os processos de reconfiguração da experiência de guerra pela forma como se procura narrar o inenarrável, submerso por múltiplas camadas de censura impostas pelo estado de guerra. Atentando à forma e conteúdo da(s) memória(s) dos soldados portugueses que lutaram na Grande Guerra, lidando com todas as suspeitas de anacronismo, subjetividade, invenção, procuramos perceber a sua ambivalência na forma como escapam, ou não, à narrativa maniqueísta da guerra.

Violência Política e Regimes Autoritários no Século XX: História, Memória e Historiografia

Docente: Vinícius Liebel 
História Contemporânea – Instituto de História da UFRJ

Este projeto tem como objetivo contribuir para a consolidação do Grupo de Estudos sobre Violência política e regimes autoritários no século XX. O grupo surgiu ainda no primeiro semestre de 2019, a partir dos diálogos e da expectativa de ampliação dos intercâmbios acadêmicos entre pesquisadores vinculados ao Núcleo de Estudos Contemporâneos da UFF (NEC) e ao Núcleo Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ (NIEJ). Sediado no Instituto de História da Universidade Federal Fluminense (IHT/UFF), o grupo nasceu estreitamente vinculado ao NEC/UFF, como expansão e, ao mesmo tempo, reconhecimento das particularidades de uma de suas linhas de pesquisa “Violência política, social e regimes autoritários no século XX”, e ganhou contornos específicos e interinstitucionais a partir do aprofundamento dos diálogos com pesquisadores do NIEJ/UFRJ. Trata-se, portanto, de uma iniciativa interinstitucional dedicada à reflexão sobre temas relativos aos processos de violência política que marcaram o século XX na Europa e na América Latina.

Democracia em Tempos de Guerra Fria

Docente: Vinícius Liebel 
História Contemporânea – Instituto de História da UFRJ

O presente projeto visa à reconstrução contextual e teórico-conceitual do pensamento de dois intelectuais de destaque no período da Guerra Fria: Hannah Arendt e Raymond Aron. Lançando mão de perspectivas apoiadas na História Cultural do Político, na História Intelectual e nos campos auxiliares da História Filosófica e da História Conceitual do Político, o trabalho aqui descrito irá focar sobre as considerações dos dois intelectuais selecionados acerca da natureza da República e da Democracia, assim como da violência, do totalitarismo e de revolução. Pretende-se, assim, inserir os dois bolsistas selecionados, cada qual dedicando-se primariamente a um dos autores, em uma pesquisa histórica voltada à vida e obra de intelectuais, proporcionando, da mesma forma, uma compreensão especializada acerca de conceitos e reflexões que se mostram centrais para entender o período da Guerra Fria e discussões que reverberam ainda hoje em praticamente todo o globo.

O judeu imaginário: um caso de conversão e desconversao:

Docente: Michel Gherman
Departamento de Sociologia da UFRJ

O debate sobre a construção da imagem do judeu na modernidade europeia não é um tema novo. Desde as reflexões propostas por Hannah Arendt até os conceitos de Zygmunt Baumann, que propõe que o judeu funcione como uma espécie de prisma (que contém as cores que o lhe observador impõe) da cultura europeia, são muitos os autores que lidam com noções de um judeu imaginário na história no século XX. Estudos de Nelson Vieira, Monica Grin e Bernardo Sorj também discutem a construção da imagem do judeu no contexto específico do Brasil. Entretanto, foi o filósofo Allain Finkielkraut, já em fins do século XX, que desenvolveu propriamente o conceito de “Judeu Imaginário”.

A proposta de Finkielkraut tem como ponto de partida a percepção de que à direita e à esquerda “o judeu” ocupa um lugar central na identidade social e politica da Europa. Apropriando-se das reflexões de Benedict Anderson, o filósofo sugere que esse “judeu imaginário” está completamente divorciado da experiência histórica do judeu e que sua emergência está atrelada à consolidação de um modelo, seguido por diversos grupos, para demandar políticas específicas de reconhecimento. Finkielkraut também percebe o uso de Israel como espécie de continuação do judeu imaginário. Nesse caso, a “Israel Imaginária”, que tem pouca relação com o Estado de Israel, é o elemento sintetizador de disputas e interesses religiosos, sociais e políticos.

No Brasil dos 2000, percebemos que a Israel é o judeu imaginários também funciona como referência politica de diversos grupos que atuam no complexo contexto social do país. Grupos de direita e de esquerda servem-se, cada um a sua maneira, desta perspectiva para intervir em suas respectivas agendas. Nossa proposta nesse laboratório é discutir justamente os processos de construção da Israel imaginária no contexto da Política contemporânea brasileira. Grupos diversos têm usado Israel, incorporando inclusive símbolos e marcas de Israel e dos judeus em suas manifestações.

Neste laboratório exploraremos essa bibliografia mencionada e outros textos de historiadores, filósofos e cientistas sociais. Como material de apoio também mobilizaremos ensaios e textos publicados na imprensa brasileira. Abordar a Israel imaginária é o caminho a partir do qual exploraremos, a um só tempo, a política contemporânea brasileira e o uso político de Israel como um traço que conecta o Brasil a outras partes do mundo em que esse uso também ocorre.